"Crise" no Brasil? Qual "Crise"?
Peguei um táxi no Rio de Janeiro outro dia...papo vai, papo vem e lá estou eu falando sobre "preços dos imóveis"...
Num dado momento, o taxista afirma:
"Em 2011, uma amiga fez uma troca de imóveis no bairro de Vila Valqueire, pois seu marido havia morrido, filhos casaram e não fazia sentido morar numa casa tão grande (cerca de 120 m2)...vendeu a casa imensa no condomínio...hoje, vale R$ 1,2 milhão"...
Questionei:
"Como é? Vale R$ 1,2 milhão?
O taxista vira e diz:
"Vale senhor...é um condomínio de luxo lá no "Valqueire"...tem piscina...tem tudo..."
Tem carioca que nem sabe onde fica Vila Valqueire...eu mesmo, como carioca, fui "passar" por Vila Valqueire talvez há uns 10 anos atrás...
Dizem que, depois da Vila da Penha, bairro da Zona Norte do RJ, colado a "tranquila" Avenida Brasil, Vila Valqueire é o bairro mais valorizado do RJ nesse "eixo da Zona Norte", excluindo o bairro da Tijuca, que, pra quem não conhece o RJ , é um bairro da Zona Norte, porém, colado à zona sul; praticamente um bairro completamente "à margem da Zona Norte" e muito valorizado.
Pois sim...
Vila Valqueire é um bairro distante do centro...muito distante...
E imaginar que tenho amigos paulistanos que reclamam que Interlagos, Jardim Marajoara, Chácara Flora e Alto da Boa Vista, todos bairros em São Paulo, são "distantes".
Nem no ápice da "Bolha Imobiliária" no Brasil, preços de imóveis de 100 m2 a 120 m2 chegavam a R$ 1 milhão em bairros como Interlagos e Jardim Marajoara...talvez...talvez, Chácara Flora e Alto da Boa Vista, sim...talvez...
Contudo, não há comparação alguma entre Chácara Flora-Alto da Boa Vista em São Paulo com Vila Valqueire, no Rio de Janeiro...
Chácara Flora-Alto da Boa Vista são bairros cercados por "verde", com uma relativa boa densidade de mercados, café e escolas de alto padrão...são bairros "não tão distantes" das marginais e vias secundárias, assim como do Aeroporto de Congonhas.
Vila Valqueire é um bairro residencial, próximo a "tranquila" Avenida Brasil, muito distante de pontos "básicos" do Rio de Janeiro.
A comparação não tem objetivo algum de imputar adjetivos pejorativos ou negativos a um ou outro bairro; tem apenas o objetivo de sinalizar e situar a enorme diferença entre os locais , mesmo dentro de um cenário de "bolha imobiliária".
Mas, voltando ao taxista...
Que conta esse rapaz faz pra concluir que um imóvel de 100 m2 a 120 m2 em Vila Valqueire vale R$ 1,2 milhão?
Não vale R$ 1 milhão...não vale R$ 800 mil...não vale nem R$ 600 mil...
Sentei outro dia num café...1 cerveja a R$ 10,00...Cerveja nacional...
- Quanto ganha um assistente contábil? R$ 1.500,00? R$ 2.000,00?
- Quanto ganha um assistente financeiro? R$ 3.000,00? R$ 4.000,00?
Como ele vai pagar um apartamento de R$ 1,2 milhão em Vila Valqueire, pagar o colégio do filho, pagar o plano de saúde e sentar num café no final de semana pra pagar uma cerveja nacional a R$ 10,00, uma fatia de torta a R$ 10,00 e um café a R$ 5,00?
A conta não "bate"..."não fecha"...
Os preços relativos estão "fora de sintonia"...
Isso é sintoma grave de "tumor na economia"...
A economia brasileira não apresenta sintomas de pneumonia, diabetes, angina...
A economia brasileira apresenta sintomas gritantes de "tumor em estágio avançado".
E a Presidente Dilma Rousseff, em sua dinâmica "mundo da lua", tem emitido sinais nos últimos dias de que o Brasil "voltou a normalidade"...
Pasmem!! Voltou a falar em votar a CPMF até julho do ano que vem...
E a reforma do Estado? E as privatizações em setores nevrálgicos? E o redimensionamento do Tamanho do Estado e do funcionalismo público?
A imensa maioria da sociedade, em seu mundinho "vai melhorar", não percebeu que o Brasil não tem apenas uma pneumonia, uma angina, uma diabetes...
O Brasil tem um "tumor", seriamente espalhado atingindo vários organismos.
O tumor está no tamanho do Estado, no profundo estrago produzido na renda da sociedade por uma inflação resistentemente alta por 4-5 anos, no profundo desalinhamento dos preços relativos, na bizarra e insana carga tributária voltada, não para sustentar a "Saúde" e "Educação" do povo, e sim para sustentar um Estado paquiderme, lento, caro e amplamente ineficiente.
O tamanho do Estado Brasileiro, aliado a esses pontos citados, produziu, produz e produzirá uma equação financeira-fiscal que é uma verdadeira "bomba", um "tumor" que, olhado sob a perspectiva atual, exigirá mais e mais "CPMF", mais e mais impostos "sobre combustível", sobre "alimentos", sobre "cigarros", sobre "cervejas", sobre "industrializados", "não industrializados" e tudo o que você puder imaginar.
Cobra-se mais CPMF, mais impostos....mais impostos.......mais "contribuições" pra cobrir uma inevitável queda na Receita que realimentará a exigência de "mais CPMF", mais impostos, e mais impostos, tudo pra sustentar o Estado......o Grande Estado....
Chegará um momento em que o setor privado, empresários, assistentes contábeis, assistentes administrativos, assistentes financeiros, analistas financeiros, analistas de sistemas, programadores, gerentes, executivos, todos serão "sugados ao máximo" pra sustentar quem ? O Setor Público.....O Grande Estado.....
Esse é o "Cenário-Grécia"...
Há um tumor instalado no Brasil...
O taxista, o funcionário público, alguns empresários e a Presidente da República ainda não perceberam o tumor...
Algo muito grande...muito ruim está pra acontecer ao país...
Somos um país novo...somos uma república nova...nesse período, vivemos períodos bons...e ruins...
Nesse período, talvez um ponto negativo era compensado por algum ponto positivo.
Exemplo? A hiperinflação brasileira "matava" o trabalhador que não tinha conta corrente, mas não "matava" a classe média, pois havia a "correção monetária"...
Havia um caos econômico e desalinhamento de preços ao longo da hiperinflação brasileira? Sim....
Mas, não havia uma "bolha de ativos", muito menos a "bolha imobiliária" vista no Brasil nos últimos 5-6 anos.
Precisamos resetar tudo...é preciso extirpar o tumor...
Chegará uma hora em que a intervenção será dramática.
Não sei o que resolve...uma Monarquia, República, Presidencialismo ou Parlamentarismo.
Mas, precisamos, sim, de um novo "Marco Zero".